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Suspeitos da morte de turista, que levou 23 facadas na praia, têm 12 crimes em suas fichas

O turista de Mato Grosso do Sul Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos, de 25 anos, foi morto durante assalta na madrugada deste domingo. Ele estava na cidade para o show da cantora Taylor Swift, previsto para este domingo, no Engenhão — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Em 48 horas, Jonathan Batista Barbosa, de 37 anos, foi preso duas vezes sob a suspeita de ter participado de crimes em Copacabana: o furto de 80 barras de chocolate e a morte com 23 facadas de um jovem turista na praia. Os casos entraram para a lista de sua ficha criminal, em que já constavam tráfico, duplo homicídio, violência doméstica, flagrante por furto, roubo e posse ilegal de arma de fogo. No último sábado, a Justiça determinou que ele fosse solto, mas que não chegasse perto da loja de departamentos onde havia furtado os doces. No dia seguinte, voltou a ser preso após o assassinato de Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos, de 25 anos, durante um assalto, a 250 metros do estabelecimento do qual não poderia se aproximar.

Jonathan e um comparsa, Alan Ananias, foram presos na última sexta-feira após terem cometido um furto na Lojas Americanas da Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Era véspera do dia do aniversário de Jonathan. Os dois acabaram detidos por agentes do Segurança Presente, que conhecem bem a dupla: Jonathan já tinha sido abordado dez vezes pelas equipes do programa, e Alan, 42 vezes. Alan, no entanto, não foi reconhecido pelas testemunhas do assassinato na praia.

 

Liberdade provisória

Na audiência de custódia, no sábado, a juíza Priscilla Macuco Ferreira decidiu conceder aos dois a liberdade provisória, e aplicou medidas cautelares, como a proibição de voltar à loja e a determinação de manter distância das testemunhas. Além disso, teriam que comparecer em juízo até o dia 10 de cada mês, para informar e justificar suas atividades, além de estar presente em todas as fases do processo. Há também o pedido para que Jonathan não “se ausente de sua residência por longo período sem prévia autorização, bem como não mudar de endereço sem a devida comunicação”. Ele vive em situação de rua.

Jonathan Batista Barbosa, apontado pela PM como autor das facadas, está foragido — Foto: Divulgação
Jonathan Batista Barbosa, apontado pela PM como autor das facadas, está foragido — Foto: Divulgação

Em nota, o Tribunal de Justiça disse que a decisão de soltar os dois “avaliou que os delitos foram cometidos sem o emprego de violência ou grave ameaça”. Além disso, “considerou que se tratava de furto de gêneros alimentícios, que foram recuperados e devolvidos à loja” e que a polícia “arbitrou fiança no valor de um salário mínimo e deixou de representar pela prisão preventiva” dos dois.

Desde 2005, quando foi preso pela primeira vez, Jonathan nunca foi condenado a cumprir pena em regime fechado — as sentenças totalizam mais de 13 anos. Na Guia de Recolhimento de Presos, há a informação sobre sua periculosidade, classificada como “alta”. Na madrugada de sábado, ele voltou a ser preso após a morte de Gabriel. O jovem sul-mato-grossense, que cursava engenharia aeroespacial, estava no Rio para ver o show de Taylor Swift. Ele estava cochilando na areia da praia ao lado de quatro amigos que conversavam, quando o grupo foi abordado por dois assaltantes, que, após as facadas, fugiram levando a chave de um carro e dois celulares.

 

Acusado das facadas

Além de Jonathan, foi preso pelo crime Anderson Henriques Brandão, de 43 anos. Na Delegacia de Homicídios da Capital, ele confirmou ter participado do latrocínio e culpou o comparsa pelo assassinato. No entanto, as testemunhas afirmam que foi Anderson quem deu as facadas.

Anderson Henriques Brandão, foi reconhecido por testemunhas e detido por policiais militares. Ele confessou o crime — Foto: Divulgação

Anderson também está em situação de rua, diz ser ambulante e ter renda diária de até R$ 60. Sua ficha criminal é extensa: já foi abordado 56 vezes pela PM e tem cinco anotações criminais. Natural de Campina Grande, na Paraíba, foi preso, pela primeira vez, em 2013, por porte de arma de fogo, processo arquivado. Depois, voltou à Justiça pelos crimes de posse de drogas, furto e uso de identidade falsa, dano com violência à pessoa e grave ameaça, flagrante por dirigir embriagado, sem habilitação e com recusa de fazer o teste de bafômetro. Ele nunca cumpriu pena. Mas, em sua Guia de Recolhimento de Presos, ele recebe a classificação de alta periculosidade.

Por estarem em situação de rua, a fiscalização do cumprimento das medidas cautelares se torna um desafio. Para Breno Melaragno, professor de Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), existe uma omissão da lei em relação à punibilidade de pessoas que vivem nas ruas.

— Antigamente, era comum que os suspeitos sem residência fossem presos preventivamente. Era uma decisão que levava em consideração aspectos socioeconômicos, mas que ia de encontro a questões humanitárias — explica.

Segundo ele, parte do problema de monitoramento diz respeito à falta de tornozeleiras eletrônicas no estado:

— Acaba que os policiais só conseguem fazer a prisão, em casos como esse, quando são acionados por terceiros. Como quando um segurança, por exemplo, nota a presença do suspeito em lugar que ele não tem permissão para estar e chama a polícia. Nesse caso, ocorre a prisão em flagrante que pode ser convertida em preventiva pela Justiça. Sem tornozeleira, o monitoramento se torna um desafio. Existe um déficit no estado em relação a isso.

 

Despedidas

Parentes de Gabriel foram ao Instituto Médico-Legal do Rio para a identificação e liberação do corpo. Duas primas dele, que também estavam no Rio para ver o show de Taylor Swift, afirmaram à GloboNews que ele será enterrado hoje com a roupa que havia customizado para ver a cantora no Engenhão. O velório está previsto para acontecer no Cemitério Santo Antônio, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

A outra vítima desse fim semana foi a turista Ana Clara Benevides, de 23 anos, estudante de psicologia, que morreu quando assistia à apresentação de Taylor Swift na sexta-feira. A sensação térmica naquele dia chegou perto dos 60 graus na cidade, e a fã ficou mais de quatro horas à espera do início da apresentação. Ela desmaiou diante do palco e foi levada para o Hospital Salgado Filho, mas não resistiu a uma parada cardiorrespiratória. A jovem não tinha qualquer doença infectocontagiosa, e o laudo que vai apontar a causa da morte ficará pronto em até 30 dias. A família teve que fazer uma vaquinha para o levar o corpo para Mato Grosso do Sul. Os parentes dizem não ter recebido apoio dos organizadores do evento. O enterro da jovem deve ser nesta terça-feira.

 

Outros casos de violência contra turistas

O assassinato de Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos não é um fato isolado de violência contra turistas no estado. Há pouco mais de um mês, num domingo de manhã, o russo Konstantine Glazkov, de 32 anos, levou uma facada no peito durante tentativa de assalto no centro do Rio. Ele estava acompanhado da esposa, a ucraniana Viktoriia Zorina, de 29 anos, quando os dois foram rendidos na Avenida Chile. Segundo Glazkov, ele entrou em luta corporal com os criminosos, que pareciam ser moradores de rua, e não percebeu quando foi ferido.

A Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat) registrou 3.484 casos no ano passado, quase dez, em média, por dia: 2.083 furtos, 621 roubos e 295 ocorrências de estelionato.

  • Em setembro deste ano, o chileno Sebastian Estevan, de 38 anos, ficou ferido após ser esfaqueado durante um assalto, na Rua Marechal Deodoro, no Centro de Niterói. A vítima teve a carteira e o celular roubados.
  • Um mês antes, um grupo de turistas foi assaltado na trilha do Costão do Pão de Açúcar, na Urca, Zona Sul do Rio. Depois de terem seus pertences roubados, as vítimas — seriam dois mineiros, dois espanhóis, um australiano e um guia — foram amarradas. Os suspeitos fugiram.
  • Em maio deste ano, um turista chileno morreu, e outro ficou ferido. Na Lapa, teriam encontrado duas garotas de programa. Após serem levados num táxi até o alto de Santa Teresa, eles foram vítimas do golpe conhecido como “boa noite, Cinderela”. Chegaram a ser levados para o Hospital Municipal Souza Aguiar, mas Ronald Sobarzo morreu. Andrés Orellana sobreviveu.
  • Também em maio, Ilia Kakhaberidze, de 31 anos, da Geórgia, foi encontrado morto em um quarto de hotel na Rua do Lavradio, na Lapa. Ele estava acompanhado de outro homem, que foi preso em flagrante.
  • Em 2022, uma turista ucraniana,Yulya Golovko, de 26 anos, foi esfaqueada no Aterro do Flamengo. Ela estava com o marido e sobreviveu.

Fonte: EXTRA

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