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    Rio tem cracolândias em todas as regiões, e 86% dos moradores de ruas usam drogas, diz censo

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    Na foto cracolândia na Rua Visconde de Niterói , na Mangueira — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

    Após a morte de um jovem por overdose na última segunda-feira, a prefeitura do Rio anunciou a intenção de adotar um projeto de internação compulsória para usuários de drogas, inicialmente para 130 pessoas já identificadas pelo município. Mas quem circula pela cidade sabe que o desafio vai além. Em todas as regiões do Rio, é possível ver pequenas cracolândias, onde pessoas consomem drogas em situação de total flagelo. Dados divulgados pelo governo municipal, dentro do Censo de População em Situação de Rua, de 2022, mostram que 86,1% das 7.865 pessoas que vivem nesta condição são dependentes químicos.

    Diferentemente de São Paulo, onde usuários de crack se concentram mais no Centro, no Rio eles estão pulverizados por diferentes bairros. O censo feito pela Secretaria municipal de Assistência Social identificou e percorreu 57 pontos em todas as regiões, que foram identificados como “cenas de uso”. Esses locais são definidos pelos pesquisadores como áreas de concentração para consumo de drogas por pessoas que “dormiram na rua ao menos uma noite nos últimos sete dias em relação à data da pesquisa”.

     

    Consumo à luz do dia

    De acordo com a secretaria, entre julho e novembro deste ano, o Sistema de Monitoramento de População em Situação de Rua fez 6.196 atendimentos a estas pessoas apenas em Copacabana e no Leme, na Zona Sul. O número é alto, mesmo levando-se em consideração que uma mesma pessoa pode ter sido abordada mais de uma vez. Em Botafogo, foram 1.483 atendimentos no período.

    Ao circular ontem pelas zonas Norte e Sul, o Extra passou pela cracolândia na Rua Couto Magalhães, em Benfica, onde há anos usuários se reúnem. No local, há tendas improvisadas, cobertas por papelão e sacos plásticos. O consumo de drogas é ao ar livre, em meio à sujeira. Por volta das 9h, garis da Comlurb recolhiam o lixo que os usuários espalharam pela via. Ao mesmo tempo, um rapaz descalço e de bermuda tentava se esconder atrás de pilhas de entulho enquanto acendia uma pedra de crack.

    A cena de grupos com cachimbos improvisados se repete dali até Manguinhos e Jacaré, bairro onde fica a Cidade da Polícia Civil.

    — Estou vendendo meu apartamento. Os usuários furtam e roubam de tudo, o tempo todo, para comprar drogas. Além disso, são violentos. Acho que, se a internação compulsória funcionar, vai melhorar muito a vida de quem mora perto dessas cracolândias — comentou uma mulher, sem se identificar.

    Moradora de Maria da Graça, onde há muitos usuários de crack pela ruas, Maria Antonia da Silva lembra da luta de tirar um primo — cujo nome não quis revelar — do vício das drogas:

    — Tentamos uma internação compulsória, que não deu certo. Meu primo fugiu da clínica, e estamos sem notícias dele há dias. A última informação é que ele andava pela cracolândia de São Paulo.

    Na Zona Sul, o consumo nas ruas se repete, mesmo que com mais discrição. Moradores já apontam pequenas cracolândias na Glória, em Botafogo e em Copacabana. Segundo Juliana Telles, representante da ONG Nova Chance, que oferece atendimento a pessoas em situação de rua e com dependência química na região, os usuários de drogas passaram a ser mais agressivos após a pandemia.

    — Hoje em dia, usuários de drogas se misturam às pessoas em situação de rua que consomem bebida alcoólica ou não têm mesmo onde morar. Esses primeiros são mais agressivos. Moradores de Copacabana, por exemplo, ficam aterrorizados — diz Juliana, que aciona a prefeitura quando algum deles aceita ir para o abrigo.

     

    Rede insuficiente

    Procurada, a prefeitura não divulgou como será a internação compulsória de usuários. A ideia seria levar essas pessoas para uma unidade de saúde, onde ficariam por tempo curto. O prefeito Eduardo Paes pediu a elaboração de um plano.

    No entanto, um relatório feito pelo gabinete do vereador Pedro Duarte (Novo) mostra que os 33 Centros de Atenção Psicossocial do Rio — que oferece tratamento a dependentes químicos e pessoas com transtornos mentais — são insuficientes para a demanda da cidade. De acordo com o estudo, o déficit seria de 30 novas unidades.

    A defensora pública Thaisa Guerreiro, coordenadora de Saúde da Defensoria Pública, concorda que ampliar a rede de assistência psicossocial é urgente. Ela lembra que a falta de leitos para a saúde mental em hospitais gerais também precisa ser observado.

    — A lei preconiza que as internações só podem ser feitas em breves períodos e em leitos de saúde mental. O município precisa investir na assistência social, área ainda mais precarizada que a de atenção psicossocial. Os abrigos são precários e com poucos recursos humanos — disse.

    A Secretaria municipal de Saúde informou que cinco CAPs estão passando por reformas e que, até o fim do ano, mais duas unidades serão implantadas. Acrescentou que, no ano passado, 26.337 usuários foram acompanhados pelos CAPs da rede municipal e mais 149 mil acolhimentos foram realizados. Segundo a pasta, o número de equipes do Programa Consultório na Rua passou de sete para 13, beneficiando cerca de dez mil pessoas em situação de rua.

    Fonte: EXTRA

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