Uma mãe denunciou um ato de racismo cometido contra seus filhos, um menino de 13 anos e seu irmão de 11, enquanto faziam compras para o almoço de domingo (26) no supermercado Multi Market, no bairro de Colégio, Zona Norte do Rio de Janeiro. Mariella Natalia, que trabalha com buffet para eventos, tinha deixado os meninos com a irmã para trabalhar naquele dia. Ela conta que seu irmão mais novo ficou enjoado diante da situação humilhante em que foram constrangidos e revistados, lamentando profundamente o episódio de racismo. “Fiquei muito chateada porque meus filhos nunca tinham passado por isso. Eu já passei”, relata Mariella, mãe de três filhos.
Os meninos pararam uma partida de bola no condomínio local para ajudar a tia com as compras. Desde que chegaram ao mercado, notaram que seguranças os acompanhavam, conforme relataram à responsável. “Eles foram ao mercado como estavam, suados. Foram só os dois. Um segurança os seguia. Enquanto meu irmão de 11 anos esperava na fila, meu filho de 13 foi pegar extrato de tomate. Foi quando um homem abordou meu irmão, perguntando sobre suas roupas”, narra Mariella.
O menino de 11 anos foi revistado, tendo sua camiseta levantada e sua sacola vasculhada. “Pediram para meu irmão levantar a camisa e girar, perguntando: ‘Onde está o outro que estava com você?’. Meu irmão então chamou meu filho. Quando ele chegou, mais dois seguranças apareceram. Um deles era o dono do mercado. Ele tocou no ombro do meu filho e disse: ‘Não tentem fazer aqui o que vocês estão acostumados a fazer'”, relata a mãe. Seu filho de 13 anos estava com as compras e com o cartão de crédito da tia para pagar.
“Eu ensino aos meus filhos: se alguém os humilhar e não tiverem telefone, peçam para alguém chamar a polícia. Eu sei que eles podem sofrer alguma consequência [por causa do racismo], mas eles nunca tinham relatado isso antes”, explica a mãe. Ela ficou revoltada ao chegar em casa e descobrir o que aconteceu.
“Meu filho de 13 anos estava tremendo de nervoso. Contaram que as pessoas ao redor estavam olhando. Meu filho queria vomitar, mas se segurou. Uma mulher os abordou e perguntou: ‘Vocês se sentiram humilhados?’ e sugeriu que chamassem um responsável para voltar ao local. Mas minha tia não seguiu adiante, dizendo que aquilo era normal. Ela disse para não ficarem com medo e irem jogar bola até o almoço ficar pronto”, continua a mãe.
Na segunda-feira (28), Mariella procurou inicialmente a 40ª DP (Honório Gurgel), mas foi informada de que precisava do nome do agressor para fazer a denúncia. Ela voltou ao supermercado com o filho e o irmão para identificar os supostos seguranças. “Meu filho estava cheio de lágrimas”, relembra.
No local, a mãe identificou que um dos homens era o dono do estabelecimento. “Ele chamou meu marido de lado e disse que era policial e que isso não daria em nada”, revela. Quando foram conduzidos para falar com o responsável da unidade, um dos meninos reconheceu que havia sido constrangido e o homem se esquivou, afirmando que não permitiria que a mãe filmasse. “Mas o senhor constrangeu meu filho”, rebateu Mariella no vídeo.
Na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), Mariella conseguiu registrar o caso. “Na delegacia, o inspetor disse que se tratava de um caso de racismo”, conclui. “Eu já sofri racismo a ponto de o dono de uma casa de festas onde eu estava trabalhando me dizer que não poderia beber refrigerante. A pessoa que me contratou se opôs e acabou com o evento. Meu filho nunca tinha passado por isso”, lamenta.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e a mãe das crianças foi ouvida. “As investigações estão em andamento para apurar o ocorrido”.
A reportagem entrou em contato com a rede de supermercados por meio do canal de atendimento informado no site e aguarda um posicionamento da Rede Multi Market sobre o caso.