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    Mãe de adolescente morta em Belford Roxo acusa PM: ‘Ele atirou com fuzil e atingiu o coração dela’

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    O funeral da jovem M.I.C., de 14 anos, cuja vida foi ceifada por um disparo durante um confronto no bairro Nova Aurora, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, aconteceu nesta segunda-feira (4) no Cemitério Municipal da cidade. Durante a despedida, a mãe da vítima passou mal e foi amparada por familiares, recebendo cuidados das equipes do Serviço Móvel de Urgência (Samu). Em meio ao luto, Michele Christovam, em lágrimas, clamou por Justiça e pela prisão do policial que acredita ser o responsável pelo tiro que tirou a vida de sua filha.

    “Senhor governador, eu imploro por socorro. Se tem filhos, por favor, não permita que eu me torne mais uma mãe sem resposta diante da perda de um filho. Tenha piedade de mim, faça com que este homem pague pelo que fez à minha filha. Enquanto não vê-lo atrás das grades, não terei paz. Não sou a primeira mãe a perder um filho, peço o apoio de todas as autoridades, que me ajudem”, suplicou.

    Segundo relato de Michele, o policial do serviço reservado (P2) mirava um miliciano e acabou atingindo sua filha, que estava de costas dentro de uma loja.

    “Dor e tristeza, é assim que me sinto, nada trará minha filha de volta. Preciso encontrar forças e quero que o policial que atirou seja preso. Ele disparou com um fuzil pelas costas, atingindo o coração dela. Ele a tratou como um animal ao colocá-la na viatura, recusando-se a prestar socorro no próprio carro. Ele tirou minha filha de mim, pode me matar, não tenho mais nada a perder, ele matou minha filha. Eu exijo Justiça”, desabafou.

    A adolescente foi levada ao Hospital Municipal de Belford Roxo, mas não resistiu. No hospital, a mãe afirmou ter encontrado o policial que teria atirado na filha.

    “No hospital, ele teve o descaramento de segurar minha mão e pedir desculpas, alegando ter filhos e que não foi ele quem atirou, mas vi lágrimas em seus olhos. O bairro Nova Aurora foi esquecido, não havia necessidade de disparar em uma rua movimentada; ele mirou um homem dentro de uma loja, minha filha estava na mesma loja, de costas, o tiro veio por trás e atingiu o coração dela”, reforçou.

    Michele reiterou o apelo por Justiça ao governador Cláudio Castro. “Senhor governador, me ajude. Faça justiça, quero saber onde estão as câmeras nos uniformes dele e dos policiais presentes. Se eu morrer hoje, tanto faz. Minha filha já morreu, minha vida já acabou, enquanto ele não for preso, não descansarei”, afirmou.

    Sonho interrompido

    A mãe, auxiliar de serviços gerais, revelou que criou suas duas filhas mais novas, gêmeas, e M.I.C. sozinha. A menina sonhava em cursar Direito, tornar-se advogada e melhorar a condição de vida da família. Durante o enterro, as irmãs mais novas seguravam cartazes pedindo Justiça.

    “Criei três filhas sozinha. Precisava sair para trabalhar, pois o pai não pagava pensão, e ela encontrava maneiras de cuidar das irmãs com 5, 6 anos. Era uma criança cuidando das outras. Estudiosa, autêntica, amada por todos. Sonhava em ser advogada, dizia: ‘Mãe, passamos tanta fome juntas que você nunca mais vai precisar limpar banheiros'”, desabafou, entre lágrimas.

    Ainda abalada, relatou que o final de ano foi arruinado e que está tomando medicamentos para suportar.

    “Ela dizia que não queria essa vida de auxiliar de serviços gerais, que iria me tirar dela e que eu não precisaria mais fazer esse tipo de trabalho. Minha filha se foi, mal consigo acreditar. Vi minha filha ali, sem vida, gelada. Estou tomando remédios e continuarei, pois cada canto da minha casa lembra um pouco dela”, desabafou.

    A família planejava passar o Natal em casa pela primeira vez. “Ela estava animada para celebrar o Natal em casa, algo que nunca fizemos. Para mim, o Natal acabou, o ano acabou”, concluiu.

    A morte da adolescente M.I.C., aos 14 anos, é o 13º caso de vítimas de até 14 anos falecidas por armas de fogo, a maioria por balas perdidas, registrado em 2023. Segundo a ONG Rio de Paz, esse é o maior número contabilizado em 16 anos.

    Sobre a violência no bairro

    Michele enfatizou que a culpa pela morte é da Polícia Militar, mas reconheceu que a região é dominada por milicianos que extorquem comerciantes.

    “Os jovens podem cobrar lá, mas não ameaçam ninguém; são os policiais que chegam para arruinar vidas. Porque cada assassinato ali começa com a polícia. Tentam culpar os jovens, mas não houve confronto. Chegaram atirando. Quero a verdade”, afirmou.

    O prefeito de Belford Roxo, Waguinho Carneiro, compareceu ao enterro e criticou a ação da Polícia Militar.

    Posição da PM

    De acordo com a PM, a garota foi baleada durante um tiroteio entre gangues rivais. No entanto, a corporação afirma que também ocorreu um ‘breve confronto’ entre criminosos e policiais militares no local. Os agentes prestaram depoimento e suas armas foram apreendidas para perícia. Uma investigação está em curso pela Corregedoria para esclarecer os detalhes da ação policial.

    Durante o episódio, um jovem também perdeu a vida. Um homem foi detido e uma arma apreendida. As investigações estão sendo conduzidas pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).

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