Natália Silva é a mulher que aparece em vídeo, fugindo de bando de criminosos em Copacabana — Foto: Reproduções TV Globo e de vídeo
O assalto na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no último sábado — que terminou com o empresário Marcelo Benchimol, de 67 anos, desacordado após levar um soco de um dos criminosos — começa com uma mulher tentando fugir do bando. Ela é Natália Silva, que relembrou o momento que definiu como “muito desesperador”, em entrevista ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo, nesta terça-feira. Nada dela foi subtraído.
— Eu tinha acabado de sair de uma loja e, alguns passos adiante, vi um rapaz suspeito e ele passou por mim. A partir daí, tentei atravessar a rua, comecei a andar em diagonal e o bando foi se aproximando. E eu não estava conseguindo (fugir). Comecei a gritar, e a mandar eles saírem. Foi muito rápido, muito desesperador, nunca senti um medo tão grande em toda a minha vida — desabafou Natália ao telejornal.
Durante a ação, que durou cerca de um minuto, Natália caminha pela calçada da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre as ruas Dias da Rocha e Raimundo Corrêa, segurando bolsas. Nesse momento, por trás, um suspeito tenta puxar seus pertences e, depois de não conseguir, sai correndo.
A ação continua, com outros criminosos cercando Natália. Depois de tentar fugir para o meio da rua, com os carros em movimento, a vítima recua e é encurralada na calçada, ao lado do empresário Marcelo Benchimol, que caminhava em direção à academia.
Durante a tarde desta segunda-feira, Marcelo prestou depoimento na 13ª DP (Ipanema), quando contou viu a mulher sendo atacada e tentou intervir:
— Vi a uns 10 metros uma moça sendo atacada. Eu pensei: “ou eu fujo, ou eu ajudo ela”. Optei por ajudar. E aí começou a pancadaria, até me desvencilhei, mas depois, por último, veio um rapaz e me deu um soco por trás. Eu estava de óculos, e os óculos enterraram no meu olho, e desmaiei. Só fui acordar na UPA, graças a dois bons policiais que me ajudaram.
Bandos organizados
De acordo com moradores de Copacabana, o modus operandi chega a ter bandos de 60 pessoas, divididos pelos dois lados da calçada da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, fazendo uma devassa em quem passar.
A empresária Beatriz Rodrigues, de 57 anos, mora há 32 no bairro e conta que presenciou grupos como o que atacou o homem 24 horas depois do assalto. Na mesma Avenida Nossa Senhora de Copacabana, só que no trecho entre as ruas Constante Ramos e Barão de Ipanema.
Ela caminhava para a Igreja São Paulo Apóstolo, quando foi surpreendida por um grupo de 25 homens, que tentavam roubar quem passasse.
— Eu, minha filha e meu genro ficamos no meio da rua. Vimos um bando de um lado, tentamos atravessar a rua e vinha outro. Era cena de Walking Dead. Um molequinho ainda disse: “tia, a senhora vai ser atropelada” — lembra Beatriz, que se abrigou em uma padaria e não viu armas, mas o investimento dos criminosos em intimidar pela quantidade de pessoas.
A rotina de Beatriz, que desistiu de ir à missa no domingo, já mudou:
— É de se espantar. Não saio mais de casa no domingo depois de 14h, é muito apavorante. E a gente tem um batalhão na Rua Figueiredo de Magalhães. Tinha que ter ronda constante. Fico aflita pelos turistas, porque a gente é muito mais esperto. O turista sai que nem um bobo, achando que tá em Nova Iorque passeando.
Por volta das 10h desta segunda-feira, agentes do programa Segurança Presente estiveram no endereço, percorrendo estabelecimentos e imóveis na busca de imagens de câmeras.
Moradores do bairro contam que o que ocorreu no sábado com o homem agredido e com Beatriz, no domingo, fazem parte de uma ação “inteligente” do crime, conforme explica o vendedor Caio Quintas, de 35 anos.
— São grupos de 60 pessoas, (que atuam) entre 18h e 19h todos os dias. Os informantes vêm na frente, cercando as esquinas, para ver se tem policia, e chamam os outros — narra Caio, que diz que a ação é feita à pé ou até usando ônibus como “bases de apoio”, pulando da janela para atacar vítimas.
Os principais trechos de atuação, segundo o vendedor, são na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre as ruas Constante Ramos e Siqueira Campos, ou na chegada à Praça do Lido.
O gerente comercial Alexandre Galdino mora em Copacabana há quatro anos e diz que os assaltos são recorrentes.
— Tanto que nós sabemos que, quando vem um grupo de cinco ou seis, já vai começar o tormento. O único dia que não tem nada é quando chove. As idades são variadas, são homens, meninos e meninas, de 11, 25 até 30 anos que se juntam no fim do dia — conta ele.
A linha de ônibus mais problemática, segundo Alexandre, usada pelos criminosos, é a 474 (Jacaré—Copacabana):
— Eles abrem a porta de trás do 474, descem tranquilamente, furtam o que dá para furtar e voltam para o ônibus como se nada tivesse acontecido.
Em nota, a Polícia Militar disse que equipes do 19º BPM (Copacabana) foram acionadas para a ocorrência e, “durante patrulhamento no local, os agentes se depararam já com a vítima no solo. O homem foi imediatamente socorrido para a UPA da região”. Segundo a corporação, a vítima não quis registrar a ocorrência do roubo no momento do atendimento. Não há informações sobre seu estado de saúde.
Fonte: EXTRA