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Série Ouro: primeira noite de desfile do Rio tem perrengues com carros e fantasia, além de relógio estourado

Desfiles da Série Ouro - União do Parque Acari — Foto: Fabio Rossi/Agência O Globo

União do Parque Acari homenageou o bloco ilê Ayiê, que completou 50 anos recentemente

Apesar das diversas emoções ao longo da primeira noite de desfiles da Série Ouro 2024 — como carros com dificuldades, fantasia que chegou em cima da hora e até escola que estourou o relógio — quem ficou na Sapucaí até o amanhecer pôde acompanhar a apresentação para cima da Unidos da Ponte. Uma novidade neste ano foi o uso da luz cênica pelas escolas de samba, mais explorada pela Acadêmicos de Vigário Geral, pela União de Maricá, pela Acadêmicos de Niterói e pela Ponte, versando com a bateria ou compondo cenas de comissão de frente e casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Para começar a noite, a União do Parque Acari homenageou o bloco ilê Ayiê, que completou 50 anos recentemente. Na Avenida, marcaram presença Vovô do Ilê, fundador do bloco, assim como Dalila Santos de Oliveira (a deusa do ébano do bloco, em 2023) e Mãe Hildelice, que assumiu o terreiro após a morte de sua mãe, Dona Hilda. Depois de viver o drama de perder boa parte das fantasias em sua quadra, alagada no temporal do início de janeiro na cidade, a escola conseguiu superar esse problema para o desfile. Foi ainda da escola o primeiro rei de bateria a pisar na Sapucaí neste carnaval. Anderson Reis, que reinou ao lado de Rose Nascimento.

Em seguida, foi a vez do Império da Tijuca, que homenageou a cantora Lia de Itamaracá. A presidente de honra da Portela, Tia Surica, foi uma espécie de elemento surpresa na comissão de frente da escola, que teve o restante do desfile marcado por sustos. O primeiro deles foi vivido pela rainha de bateria Lay Telles, que recebeu sua fantasia quando o samba já era tocado pelos ritmistas.

Foi com emoção, mas deu tudo certo — disse Lay, aliviada.

Ao fim do desfile, um carro alegórico da escola do Morro da Formiga ainda teve um princípio de incêndio, causando preocupação nos presentes e gerando muita fumaça.

Bombeiros acompanham alegoria após um princípio de incêndio — Foto: João Vitor Costa

Já a Acadêmicos de Vigário Geral foi a terceira a desfilar, com enredo sobre o São João de Maracanaú, no Ceará. Brilhando à frente da bateria, estava a rainha Egili Oliveira, protagonista do documentário “Egili — a rainha retinta do carnaval” (que usava uma fantasia que piscava).

Em seguida, a política entrou em cena. A Inocentes de Belford Roxo trouxe uma faixa que dizia “Perseguidos, despejados e proibidos”, em referência aos problemas com a prefeitura da cidade. A escola precisou ensaiar na cidade vizinha de Mesquita, por falta de liberação em Belford Roxo. O presidente Reginaldo Gomes, ao discursar na concentração, chegou a chamar o prefeito Waguinho de “ditador”:

A Inocentes foi perseguida lá em Belford Roxo. Foi proibida de ensaiar e sofreu todo tipo de covardia nesse mês.

Falando dos camelôs, o desfile foi de fácil compreensão, com escultura do apresentador Silvio Santos (que foi ambulante quando jovem) e da presença de Rick Chester, vendedor de água que se tornou influencer. Até então, essa era uma das melhores apresentações da noite, mas foi preciso lidar com uma alegoria que abriu buraco diante da cabine dupla de jurados, no Setor 3. Houve espaço ainda para emocionar, com a passista Alessandra dos Santos Silva, que teve o braço amputado após ser internada para a retirada de um mioma, foi ovacionada pelo público, desfilando como musa.

Campeã em 1992, a Estácio mostrou que tem torcida ao pisar na Avenida, sendo ovacionada. Exaltando a cultura negra, com referências às vovós Cambinda e Conga, a escola, no entanto, demorou a cruzar a passarela do samba, e estourou o relógio em um minuto.

O momento mais esperado da noite foi quando a União de Maricá fez sua estreia na Sapucaí. Depois de receber R$ 8 milhões da prefeitura da cidade, a expectativa com o desfile alcançada com alegorias e fantasias dignas do primeiro pelotão do carnaval. Aplaudida por muitos torcedores, que marcaram presença nas arquibancadas, a agremiação mostrou a que veio, com uma comissão de frente que subiu em um pandeiro “vivo”, que chegou a ficar com um dos lados de pé, e com os bailarinos sambando sobre ele, como se tivesse sendo tocado.

Em seguida, a Acadêmicos de Niterói (que recebeu R$ 2 milhões da prefeitura de sua cidade) levou a rainha “gringa” Heather Anchieta e o rei de bateria Jorge Amarelloh para bailar diante dos ritmistas. No entanto, o bom desfile terminou com problemas no último carro, que abriu buraco diante da última cabine de jurados, e precisou reunir 50 empurradores para sair no tempo permitido.

E com samba que levantou a Sapucaí, a Unidos da Ponte encerrou o desfile, já no amanhecer. Contando a história do dendê, a agremiação de São João de Meriti teve dor de cabeça com seus carros, tanto o abre-alas, que desacoplou próximo à cabine de jurados. Já último carro passou apagado na Sapucaí. Mesmo com tempo sobrando, a bateria optou por não entrar no segundo recuo de bateria e a Ponte chegou à Apoteose sem se preocupar com o relógio.

Último carro da Unidos da Ponte desfila apagado — Foto: Roberta de Souza

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