Um estudo clínico recentemente divulgado na revista científica Heart and Circulatory Physiology revela uma possível inovação no tratamento da apneia obstrutiva do sono, condição conhecida por interromper a respiração durante o sono e associada a diversas complicações de saúde, como doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, obesidade, diabetes, ansiedade e depressão. Atualmente, o tratamento mais comum para essa condição envolve o uso de dispositivos de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), aos quais nem todos os pacientes se adaptam bem, e, em alguns casos, recomenda-se intervenção cirúrgica.
A pesquisa, conduzida por especialistas da Faculdade de Medicina e Saúde Pública da Universidade Flinders, na Austrália, incluindo o professor Danny Eckert, coautor do estudo, testou a eficácia de um spray nasal capaz de bloquear os canais de potássio das vias aéreas, potencialmente mantendo-as abertas durante o sono e reduzindo a probabilidade de colapso da garganta, um dos principais problemas enfrentados pelos pacientes com apneia obstrutiva do sono.
No estudo, dez participantes, divididos igualmente entre homens e mulheres com uma média de idade de 55 anos, todos diagnosticados com apneia obstrutiva do sono grave, receberam aleatoriamente um de três tratamentos: um spray nasal placebo, um spray contendo o bloqueador dos canais de potássio, ou o spray bloqueador combinado com restrição da respiração apenas pelo nariz, utilizando fita adesiva na boca ou no queixo. A pesquisa apontou que, quando não restrita a respiração nasal, o tratamento com o spray nasal mostrou uma redução modesta na gravidade da apneia em comparação com o placebo.
Os resultados indicaram melhorias significativas na qualidade do sono dos participantes, incluindo aumento dos níveis de oxigênio e redução da pressão arterial matinal. Por outro lado, a restrição da respiração nasal não mostrou benefícios e, inclusive, tendeu a piorar a função muscular das vias aéreas superiores.
“Os resultados sugerem que o spray nasal testado é seguro e bem tolerado. Os participantes que apresentaram melhorias na função das vias aéreas durante o sono também tiveram reduções significativas nos indicadores de gravidade da apneia obstrutiva do sono”, afirmou Amal Osman, principal autor do estudo.
As descobertas abrem caminho para novas opções de tratamento da apneia do sono, um campo até então limitado a dispositivos mecânicos e intervenções cirúrgicas. Os pesquisadores planejam expandir o estudo para confirmar a eficácia e segurança do spray nasal em uma amostra maior de pacientes.
“Atualmente, não há medicamentos aprovados para tratar a apneia obstrutiva do sono. Com essas descobertas e pesquisas futuras, estamos avançando na direção de desenvolver novos medicamentos que sejam seguros, eficazes e fáceis de usar”, destaca Eckert, apontando um horizonte promissor para o tratamento dessa condição desafiadora.