Por Laura Mendonça: Budapeste, Hungria
Existem nações que marcam a história de outros países. Pergunte a qualquer cidadão brasileiro sobre a conexão entre Brasil e Portugal ou com os Estados Unidos. Provavelmente, esta pergunta seria respondida imediatamente com algum pedaço fundamental da história do Brasil.
Já quando pensamos na relação entre Brasil e Áustria, criar uma conexão pode parecer algo um pouco mais distante, não tão imediato. Entretanto, a Áustria está fundamentalmente ligada a história do Brasil, mais especificamente a era da colonização e a subsequente independência da nação. Esta conexão foi criada a partir da Imperatriz Maria Leopoldina, onde o fruto de um casamento diplomático entre Áustria e Portugal culminou-se em sua ajuda a arquitetar o plano para a independência anos depois.
A história de Leopoldina é marcada em representações na mídia brasileira por seu relacionamento conturbado com D. Pedro I, cercado por escândalos de traições e atividades boêmias do então príncipe português. Mas a jornada de Leopoldina é muito mais profunda do que seu título de “esposa de Dom Pedro”. Leopoldina em somente 5 anos de casamento, desde sua primeira chegada ao Brasil em 1817, teve o feitio de ter fala decisiva na independência da maior colônia do reino de Portugal em 1822, em uma época onde a fala de uma mulher não carregava o peso da de um homem, não importava quem ela fosse. Sua história atesta o caso de muitas outras mulheres que, ocultas pela sombra de homens renomados, mudam o curso da história.
Leopoldina era uma mulher extremamente inteligente, à frente do seu tempo. Sua educação singular a preparou para lidar com os caminhos da monarquia, que já corria na história de sua família, os Habsburgos, a séculos. Em meio a crise política entre Brasil e Portugal que se deu início em 1820, Leopoldina fez uma decodificação do clima político do país, constatando que a tentativa de uma ‘segunda colonização’ pelo estado Português traria revoltas ao Brasil, o que culminou em seus conselhos a Dom Pedro de liderar a independência de forma autônoma. No dia 2 de setembro de 1822, enquanto Dom Pedro viajava, Leopoldina, como regente do Brasil, bravamente convocou e presidiu uma reunião do Conselho de Estado, onde assinou o decreto que recomendava oficialmente a separação de Brasil e Portugal, antecipando a proclamação da independência que aconteceria cinco dias depois. Leopoldina exemplifica uma mulher singular que, em meio à crise que mandou de volta para a Europa todos os outros monarcas que viviam na corte brasileira, decidiu ficar e estrategizar o melhor plano para a prosperidade da colônia.
A busca pela representação apropriada de Leopoldina é feita por brasileiros que buscam reviver a memória da primeira Imperatriz do Novo Mundo. Paulo Celestino, jornalista e produtor executivo da Sicom Filmes, está trabalhando em um projeto chamado “Raízes: Memórias de um Povo”, uma série sobre a história do Brasil em forma cronológica, dando destaque às personalidades mais decisivas na formação da nação. A série conta com um episódio inteiro dedicado a Dona Maria Leopoldina, intitulado “Prelúdio à Independência” que procura dar luz às conquistas de Leopoldina. Celestino compartilha a crença de que a monarca não recebe seu devido crédito, e declarou que “A Imperatriz foi uma mulher injustiçada pela história do Brasil”.
No dia 28 de Agosto, Celestino se encontrou com o embaixador da Áustria no Brasil, Stefan Scholz, em Brasília para discutir uma parceria na produção da série. O encontro, que se fez muito produtivo, tem agora como seguimento um encontro na cidade de Viena, capital da Áustria onde Leopoldina nasceu, para encontrar seus descendentes e fortalecer mais ainda o projeto e o compromisso em prover o resgate cultural que liga as duas nações.
A série também abrange a cidade de Maricá como um dos cenários “guardiões de memórias imperiais”. Dom Pedro esteve pessoalmente em Maricá e agradeceu a então vila pelo apoio à independência do Brasil. O laço com Maricá continua agora com o Deputado Federal e Prefeito eleito de Maricá Washington Quaquá, que expressou a intenção de criar um monumento em homenagem à Imperatriz na cidade, em continuidade às comemorações do 7 de setembro, para que a memória das contribuições de Leopoldina não seja esquecida.
Propostas como estas são de suma importância para manter a memória histórica do país viva, e mostram como países tão distantes e distintos como Brasil e Áustria estão interligados desde o início de nossa história.
A conexão entre Leopoldina e a independência do Brasil é um exemplo claro de como figuras internacionais podem influenciar os destinos de uma nação. Projetos culturais como o de Paulo Celestino, e iniciativas como o monumento em Maricá, desempenham um papel essencial em resgatar essas figuras históricas, muitas vezes esquecidas, e reafirmar o valor de suas contribuições. Assim, é por meio da preservação dessas memórias que mantemos vivo o legado de mulheres que, como Leopoldina, ajudaram a moldar o Brasil que conhecemos hoje.