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Cristina Buarque morre aos 74 anos e deixa legado como guardiã do samba de raiz

Foto: Reprodução / Capa do álbum ‘Cristina’, de 1981

Cantora marcou a música brasileira com interpretações de clássicos e recusou o brilho fácil da fama, mesmo sendo irmã de Chico Buarque

Morreu neste domingo (20), aos 74 anos, a cantora Cristina Buarque, referência no resgate e preservação do samba tradicional. Discreta por natureza e conhecida por sua aversão aos holofotes, Cristina faleceu em decorrência de complicações de um câncer, como informou seu filho, Zeca Ferreira, nas redes sociais.

Cristina Buarque de Hollanda nasceu em São Paulo, em 23 de dezembro de 1950, mas construiu sua carreira no Rio de Janeiro, onde desenvolveu um trabalho profundamente ligado à memória do samba. Mesmo sendo irmã de um dos maiores nomes da MPB, Chico Buarque, ela trilhou um caminho próprio, guiada pela paixão pelos mestres da velha guarda e nunca pelo peso do sobrenome.

A estreia como cantora aconteceu em 1967, no disco Onze sambas e uma capoeira, de Paulo Vanzolini. No ano seguinte, gravou Sem fantasia ao lado de Chico, mas rapidamente seguiu em carreira solo, voltando sua atenção a sambistas como Cartola, Manacéa, Noel Rosa, Ismael Silva e Dona Ivone Lara.

Seu primeiro álbum, Cristina (1974), foi um manifesto sonoro em defesa dos compositores esquecidos, com interpretações delicadas e reverentes. O disco também apresentou ao grande público joias como Quantas lágrimas (1970), de Manacéa, que se tornaria um marco na discografia da artista.

Dois anos depois, em Prato e faca (1976), Cristina reviveria outra obra de Manacéa, Sempre teu amor (1963), e apresentaria Esta melodia (1959), de Bubu da Portela e Jamelão — samba que só ganharia projeção nacional em 1994, quando foi regravado por Marisa Monte. Cristina, aliás, foi influência declarada de artistas como Marisa e Mônica Salmaso, que beberam da mesma fonte do samba clássico.

Outros álbuns como Arrebém (1978), Vejo amanhecer (1980), Cristina (1981) e Resgate (1994) consolidaram sua trajetória como uma das vozes mais importantes na valorização do samba de raiz. Em 1995, ao lançar um disco dedicado a Noel Rosa ao lado de Henrique Cazes, passou a assinar com o sobrenome Buarque, quando já era amplamente reconhecida por sua integridade artística.

Cristina Buarque não tinha voz potente, nem buscava o estrelato. Mas deixou uma marca profunda na música brasileira com sua devoção ao samba, sendo lembrada como uma verdadeira pescadora de joias esquecidas — que ela fez questão de lapidar e devolver ao público com respeito e afeto.

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