Apesar da queda nos casos de malária no Brasil, a luta contra a doença ainda enfrenta um grande obstáculo: a falta de diagnóstico rápido e preciso. O alerta é de Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro, chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária da Fiocruz e integrante do comitê que assessora o governo no combate à doença.
Entre janeiro e março deste ano, os casos confirmados caíram 26,8% em comparação a 2024, segundo o Ministério da Saúde. Mesmo assim, foram mais de 25 mil registros em apenas três meses.
Para Daniel-Ribeiro, atingir as metas de reduzir 90% dos casos até 2030 e eliminar a transmissão até 2035 é possível — mas só se a vigilância melhorar em todo o país. E ele faz um alerta: embora a maioria dos casos aconteça na Amazônia, o mosquito transmissor, o Anopheles, vive em 80% do território nacional.
Mobilidade e risco fora da Amazônia
Com o aumento das viagens dentro e fora do país, a chance de espalhar o protozoário causador da malária é real. Uma pessoa infectada pode levar até 30 dias para apresentar sintomas, período suficiente para se tornar uma nova fonte de transmissão.
“Fora da Amazônia, médicos precisam ficar atentos: febre, dor de cabeça, calafrios e suor excessivo podem ser sinais de malária”, reforça o especialista.
Doença rápida e perigosa
Duas espécies de parasitas são responsáveis pela maioria dos casos no Brasil: o Plasmodium vivax, que representa 80% dos registros e é altamente infeccioso, e o Plasmodium falciparum, que apesar de menos comum, é o mais letal.
O diagnóstico rápido é essencial. Uma pessoa infectada pelo vivax pode transmitir a doença já no primeiro dia. Com o falciparum, o risco começa a partir do sétimo dia. “Se o tratamento não for iniciado rapidamente, novos surtos podem surgir até em áreas onde a malária já tinha sido eliminada”, explica Daniel-Ribeiro.
Mudanças climáticas: um novo desafio
Embora a malária tenha sido erradicada na Europa e na América do Norte, as mudanças climáticas podem mudar esse cenário. O aumento das temperaturas favorece tanto o mosquito quanto o parasita, elevando o risco de reimplantação da doença em regiões antes consideradas seguras.
“Com o aquecimento global, o combate à malária vai ficar ainda mais difícil, principalmente onde ela já existe”, conclui o especialista.