A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência vinculada à ONU, alertou nesta quarta-feira (29) que o planeta tem 70% de chance de superar o limite de 1,5°C de aquecimento médio global em relação à era pré-industrial entre 2025 e 2029. A projeção, baseada em dados do Serviço Meteorológico do Reino Unido e de dez centros climáticos internacionais, confirma que o mundo está entrando em um período crítico e sem precedentes.
A secretária-geral adjunta da OMM, Ko Barrett, foi direta: “Acabamos de viver os dez anos mais quentes já registrados. Infelizmente, este relatório não traz sinais de que essa tendência vá mudar”.

O limite de 1,5°C, estabelecido no Acordo de Paris de 2015, é uma referência-chave para tentar evitar os impactos mais severos das mudanças climáticas. No entanto, climatologistas apontam que a meta está cada vez mais distante, já que as emissões de dióxido de carbono – principal gás responsável pelo efeito estufa – continuam subindo globalmente.
“Estamos perigosamente próximos de ultrapassar os 1,5°C de forma permanente até o fim desta década”, alertou o climatologista Peter Thorne, da Universidade de Maynooth, na Irlanda.
A estimativa mais recente da OMM aponta que o aquecimento médio entre 2015 e 2034 está em 1,44°C. Já o observatório europeu Copernicus calcula esse número em 1,39°C. Embora a probabilidade de atingir 2°C já em um dos próximos cinco anos ainda seja considerada baixa (1%), é a primeira vez que esse cenário aparece nas projeções da organização.
Os impactos do aquecimento já são visíveis: intensificação de ondas de calor, chuvas extremas, secas prolongadas e derretimento acelerado de calotas polares e geleiras. Na última semana, por exemplo, a China registrou temperaturas acima de 40°C, os Emirados Árabes se aproximaram dos 52°C e o Paquistão foi atingido por ventos letais após uma onda de calor.

Para a climatologista Friederike Otto, do Imperial College de Londres, o alerta não poderia ser mais claro: “Já atingimos um nível perigoso de aquecimento. Continuar apostando em petróleo, gás e carvão em 2025 é uma completa loucura”.
O relatório também aponta para a redução contínua do gelo marinho no Ártico e maior probabilidade de secas severas na Amazônia, enquanto outras regiões, como o sul da Ásia e o norte da Europa, devem enfrentar chuvas mais intensas.

O mundo se aproxima de um ponto crítico. Cada fração de grau conta – e o tempo para reverter os danos está se esgotando.
Fonte: O Globo