Criado em 2001, o Programa Aprendiz Musical, da Prefeitura de Niterói, é hoje uma das maiores iniciativas de educação musical do país, beneficiando crianças, adolescentes e jovens de até 24 anos com aulas gratuitas. Mantido pela Secretaria Municipal de Economia Criativa e Ações Estratégicas (SECAE) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, o projeto já impactou mais de 10 mil alunos, se tornando uma referência nacional em inclusão social por meio da música.
O programa oferece aulas em 100% das escolas municipais de ensino fundamental e conta com polos de prática instrumental e canto coral nos bairros Fonseca e Centro. Além das aulas, os alunos participam de oficinas, cursos, passeios e intercâmbios culturais.
As formações musicais são divididas em diferentes orquestras, como a Orquestra Infantil, regida pelo maestro Diogo Moura, que reúne crianças de 7 a 15 anos; a Orquestra de Sopros, sob comando do maestro Gabriel Dellatorre, composta por cerca de 40 jovens; e a Orquestra Experimental de Cordas, dirigida pelo maestro Daniel Andrade, formada por 16 instrumentistas.
O grupo de maior destaque é a Orquestra Aprendiz Musical, conduzida pelo maestro Evandro Rodrigues, que reúne cerca de 50 músicos, entre 14 e 24 anos. A orquestra se apresenta em importantes espaços culturais, como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, levando um repertório que valoriza a música nacional.
“O Aprendiz Musical é motivo de muito orgulho. Ele não só desenvolve habilidades musicais, mas também amplia horizontes e gera oportunidades, especialmente para quem mais precisa”, destaca André Diniz, secretário de Economia Criativa e Ações Estratégicas.
Em entrevista ao Gazeta, o maestro Evandro Rodriguese se pronunciou:
GAZETA: O Sr. pode falar um pouco sobre o programa?
E.R.: É um programa aprendiz, ele já existe há mais de 20 anos, 24 anos na verdade, em Niterói. Eu estou com eles há 13 anos.
GAZETA: Qual é a sua formação musical?
E.R.: Regência orquestral. Cada maestro tem o seu instrumento. O meu instrumento é o piano. Mas eu tenho formação em regência aqui e fora do Brasil também. Eu sou de São Paulo.
GAZETA: E qual é a importância que o senhor percebe na adesão dessas crianças para a música? Como o senhor percebe que afeta a vida delas?
E.R.: Em tudo. Porque a música é base fundamental para a educação. Desde a Grécia, eu já sabia disso. Depois ficou um bom tempo sem isso. E agora, graças a Deus, esses projetos sociais através da música estão voltando com isso dentro das escolas e estão fazendo toda a diferença na sociedade. Nosso projeto, por exemplo, atua diretamente com a Escola Municipal de Niterói.
GAZETA: O senhor percebe mudança no comportamento dos jovens com quem costuma conviver no programa?
E.R.: Com certeza. Eu pego o pessoal que já está mais velho. Aqui é a ponta do projeto, mas o projeto começa desde a quinta série. Tem um caminho longo, o programa. Eu pego o pessoal a partir dos 16 até os 24 anos. Então é o pessoal que já está formado, mesmo. A maioria segue carreira musical. Inclusive nós temos professores lá no programa
que foram alunos. O nosso coordenador, o João Reis, ele foi aluno e agora é coordenador geral.
GAZETA: O Sr. se sente recompensado profissionalmente?
E.R.: É muito gratificante. É muito gostoso ver essa evolução deles e ver que realmente faz diferença na vida deles. Porque além de mudar na questão não só educacional, porque ajuda na escola e tudo mais, mas tem uma questão
também social, eles acabam trabalhando na área também. Não só como músico, mas como produtor. E também ensina disciplina, porque sem isso é impossível fazer música.
O Coordenador Pedagógico do Programa, João Reis, contou um pouco sobre sua trajetória e explicou o Programa em entrevista ao Gazeta:

GAZETA: Você já passou pelo programa, também?
J.R: Sim, eu fui aluno na inauguração do programa em 2001, eu tinha 11
anos, e eu comecei estudando violino, depois segui uma carreira de estudos
dentro do programa, ainda, e universidade, retornei como professor e hoje estou
como coordenador.
GAZETA:E como está sendo para você contribuir para o programa que
te ajudou a seguir essa carreira?
J.R: Para mim é sempre uma conversa boa que eu
tenho com o meus demais coordenadores, meus auxiliares. Porque eu
tenho não só a visão técnica do estudo, mas muitas vezes eu já me vi no lugar
desses alunos, então é muito interessante a possibilidade de eu trazer uma visão
assim, quando normalmente a gente vem com a visão academicista em algumas situações. Como “vamos fazer, vai
acontecer, vai ser muito legal”, mas peraí, deixa eu me colocar no lugar do aluno,
deixa eu ver como é que um aluno entenderia essa coisa. Vai alcançar ele? Vai
entender dessa forma? Então eu acho que eu consigo trazer essa visão para o programa.
Muitas vezes eu tento fazer isso, que é justamente essa visão de quem já passou,
quem já esteve do lado de lá, recebendo toda a orientação possível e melhorando
o que eu achava também na minha época, o que não era possível, que não era viável. Então, sempre, através de muito debate com a equipe pedagógica, a gente sempre chega a essas conclusões, sem deixar de
lado esse olhar.
GAZETA: Você tem muito contato com os alunos, com as crianças?
J.R: Muito. Eu trabalho na sede do programa, então estou sempre à disposição para
conversar, para orientar tudo o que eles precisarem.
GAZETA: O que você percebe de evolução, de mudança na vida dessas crianças dentro do programa?
J.R: O aprendiz acaba trazendo uma oportunidade para os alunos. Então, a gente leva uma oportunidade de carreira para todos eles. Eu costumo dizer que nem todo mundo que está passando pelo aprendiz (hoje, nós temos 10 mil
alunos) nem todo mundo vai ser músico, mas todo mundo vai ter um aprendizado de música, vai entender o que é o universo musical. E se a gente não está formando músicos, a gente está formando plateia, o que é tão importante quanto. Então, eu acho que a mudança que a gente traz para esses alunos, para a vida, é
a oportunidade de uma carreira e um estudo e a dedicação, a disciplina, a responsabilidade de estar sempre ali fazendo a aula, estudando um instrumento que, assim como o esporte, o instrumento demanda um tempo, não é só aquela coisa de fazer a aula e ir embora. Então o aluno precisa se dedicar, tem um tempo
gasto ali e tudo isso estimula muito mais a responsabilidade dos alunos.
GAZETA: Você pode falar um pouquinho a respeito da expectativa de vocês ao fazerem essa turnê?
J.R: Essa turnê que gente está fazendo, através do edital da Prefeitura do Rio de
Janeiro (nós somos de Niterói, mas é através do edital Integra Rio, da Secretaria Especial de Integração Metropolitana e Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro), então através
desse edital a gente vai levar esse projeto, que é o concerto
didático, para outros municípios, outras cidade. E a gente espera que possamos estimular
também as próprias cidades a criarem seus próprios projetos e terem sua
oportunidade de ter também o que a gente conseguiu construir em Niterói ao
longo desse tempo.
GAZETA: Qual é a trajetória das crianças dentro do projeto
normalmente?
J.R: A gente atende alunos de 6 a 25 anos. O aluno entra na escola porque a gente funciona com a iniciação musical dentro do ensino regular. Então os alunos de primeiro, segundo e quinto ano, eles têm um
tempo de aula por semana em toda a rede municipal com aulas de iniciação musical. A partir do terceiro ano, em algumas escolas, quase todas na rede, eles podem optar também por um instrumento ou canto coral, de acordo com a quantidade de vagas. A partir daí, esses alunos que querem continuar se desenvolvendo, eles podem seguir até a Casa Aprendiz, que são o nosso polo de referência, que é onde a gente tem a
aula de todos os instrumentos mais desenvolvidos. Eles têm a possibilidade de se
desenvolver até os 25 anos, até a idade universitária. Então, eles podem participar de um grupo de referência, que a gente divide em três níveis, iniciante intermediário e avançado. E temos canto, instrumentos de sopro,
percussão e cordas. E daí surgem todos os nossos grupos de referência, que são o coro referência, que é o Coro Aprendiz Musical, a Orquestra Sinfônica Aprendiz Musical e a Banda Aprendiz, que é com
instrumentos de sopro. E temos os níveis mais iniciantes também, que é a orquestra infantil, o coro infantil e assim por diante.
GAZETA: Os músicos que se apresentaram no CEPT Professora Zilca Lopes da Fontoura são a elite dos alunos de vocês?
J.R: Muitos já são universitários, muitos já estão na vida profissional também. Eles são os que já fazem parte do nosso grupo há mais tempo. Muitos deles iniciaram bem pequenininhos nas escolas.
Os músicos da orquestra também contaram um pouco das suas experiências ao Gazeta:

GAZETA: Pode me falar seu nome, idade e instrumento?
ÍTALO: Ítalo, tenho 21. Eu toco violino e percussão.
GAZETA: Você está no programa há quanto tempo?
ÍTALO: Estou no programa há mais ou menos uns 4 a 5 anos. Eu comecei e prefiro o violino. Mas a percussão bate também.
GAZETA: Qual é o estilo musical que você prefere?
ÍTALO: Ah, eu gosto muito do samba, cara. Curto muito o samba. Mas, assim, clássico é incrível. Eu
toco violino e estudar clássico é incrível também.
GAZETA: Como você entrou no programa?
ÍTALO: Então, eu entrei no programa com uma orquestra que tinha surgido, né? Acho que foi uma extensão, se não me
engano, da OJN (Orquestra Jovem de Niterói), que eu acho que era tipo uma extensão da Aprendiz, entendeu? Era uma outra orquestra, só que era da Aprendiz. E aí depois eu comecei a fazer aula na Aprendiz, aí depois a OJN acabou e aí eu continuei na Aprendiz Musical, na orquestra principal.
GAZETA: E atualmente você está atuando na área musical?
ÍTALO: Sim, sim. Eu me formei na Academia Juvenil da Petrobras. E faço parte do Quarter Black. Hoje eu tô na faculdade da Unirio. Faço a licenciatura em música.
GAZETA: E o seu nome e idade?
M.EDUARDO: É Matheus Eduardo. Matheus Eduardo. Eu tenho 21 anos.
GAZETA: Você está no projeto há quanto tempo? Qual é o seu instrumento?
M.EDUARDO: Tô entre 2 a 3 anos. 2 a 3 Eu toco flauta transversal.
GAZETA: Existem quantos tipos de flauta?
M.EDUARDO: Tem um monte. Várias.
GAZETA: Foi seu primeiro instrumento de escolha ou você descobriu depois?
M.EDUARDO: Foi meu primeiro instrumento. Tipo assim, eu já logo queria pegar
flauta, aí fui iniciado no pífaro, que é tipo como se fosse um flautim, um
instrumento de madeira para quem vai iniciar na flauta. Aí você passa no pífaro,
depois vai para a flauta transversal. Igual para quem toca instrumento de palheta,
começa na flauta doce e vai para o outro instrumento. Aí eu iniciei assim.
GAZETA: Como você entrou no programa?
M.EDUARDO: Eu entrei em 2020, 2021, e aí depois eu saí, porque eu moro em
Saquarema, né, na verdade, eu nem sou de Niterói. E aí voltei em 2023, e estou
até agora.
GAZETA: Mas como você entrou? Por onde?
M.EDUARDO: Processo seletivo. Fiz um edital, aí
fiz uma audição, né, me inscrevi no edital, fiz a audição, passei e entrei. Eu toco desde pequeno. Desde os 6, 7 anos eu toco.
GAZETA: E como você começou a aprender?
M.EDUARDO: Meu pai é músico, meu pai é clarinetista. Aí ele já logo me iniciou na música. Desde pequeno aprendi teoria e depois iniciei no instrumento. E desde então estudo.
GAZETA: Você atua na música fora do projeto também ou não?
M.EDUARDO: Faço outros trabalhos por fora, alguns freelancers e tal, mas o meu objetivo mesmo é passar
como militar, músico, em qualquer força aérea, para poder garantir minha vida e depois eu penso em outra coisa. Estou estudando para isso. Entendi.
GAZETA: Qual é o seu estilo de música favorito?
M.EDUARDO: Clássico e chorinho, samba também, gosto muito. Flauta, né
cara?

GAZETA: Qual é o seu nome, idade e instrumento?
ZORA: Meu nome é Zora, tenho 24 anos e toco violino há 3.
GAZETA: Como você entrou pro programa?
ZORA: Eu estudava no Conservatório de Música de Niterói e fui recomendada para o Jovem Aprendiz Musical pelo meu professor, quando surgiu um edital do programa.
GAZETA: Qual é o seu objetivo na música após o Aprendiz?
ZORA: Meu sonho é fazer faculdade de música na UFRJ ou na Unirio. Estou estudando pra isso.