Em uma parceria inédita, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) firmaram um acordo de cooperação técnica visando o desenvolvimento de novos produtos e a incorporação de tecnologias para aprimorar os tratamentos oncológicos. O objetivo dessa iniciativa é reduzir os custos para o Sistema Único de Saúde (SUS), que investiu cerca de R$ 4 bilhões em procedimentos para pacientes com câncer somente em 2022.
O acordo foi estabelecido durante o 8º Fórum Big Data em Oncologia, realizado com a parceria do movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC) e do Observatório de Oncologia, contando também com o apoio do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz.
Esse acordo prevê melhorias no diagnóstico, na saúde pública de precisão e na identificação de alternativas terapêuticas mais eficazes. Além disso, espera-se o desenvolvimento de novas terapias utilizando produtos biológicos ou sintéticos, bem como a adoção de novas tecnologias com alto potencial de aplicação no Brasil.
O Inca, como órgão auxiliar do Ministério da Saúde, é responsável pelo desenvolvimento e coordenação de ações integradas para a prevenção e controle do câncer no país. Por sua vez, a Fiocruz, como produtora de insumos, busca atender às demandas do SUS relacionadas a doenças crônicas, principalmente o câncer. Essa complementaridade entre as instituições foi o ponto de partida para a cooperação, conforme destacado por Marco Aurélio Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação da Fiocruz.
Essa cooperação permitirá uma interação significativa entre os pesquisadores das duas instituições, proporcionando avanços na saúde pública de precisão, validação e desenvolvimento de novas ferramentas para medicamentos, diagnósticos, produtos biológicos e terapias avançadas, explicou Krieger.
João Viola, coordenador de Pesquisa e Inovação do Inca, ressaltou a importância dessa cooperação na área do câncer, fortalecendo as relações entre as instituições nos campos de ensino, pesquisa e inovação. Ele enfatizou que estão unindo esforços para resolver problemas no campo da oncologia e desenvolver conhecimentos em pontos estratégicos.
Um estudo divulgado pela Fiocruz na semana passada revelou que o SUS gastou cerca de R$ 4 bilhões em tratamentos de câncer em 2022. Durante o 8º Fórum Big Data em Oncologia, Nina Melo, coordenadora de pesquisa da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e do Observatório de Oncologia, apresentou os detalhes desse levantamento. O estudo, intitulado “Quanto custa tratar um paciente com câncer no SUS?”, baseou-se nos gastos federais e não incluiu números estaduais, municipais, filantrópicos e privados. Durante o painel, também foram discutidos os fatores que contribuem para o alto custo do tratamento de pacientes com câncer no SUS. De acordo com a pesquisa, estágios avançados da doença estão diretamente relacionados a custos mais elevados de tratamento, impactando tanto a qualidade de vida dos pacientes quanto o financiamento em saúde.
Os gastos com saúde em 2022 ultrapassaram R$ 136 bilhões, sendo que mais de R$ 62 bilhões foram destinados à assistência hospitalar e ambulatorial. Dos valores destinados ao tratamento do câncer, quase R$ 4 bilhões foram alocados para o tratamento ambulatorial (77%), cirurgias (13%) e internações (10%).
Nina Melo também relatou um aumento de 402% no custo médio dos procedimentos de tratamento do câncer (quimioterapia, radioterapia e imunoterapia) entre 2018 e 2022. Por exemplo, o custo médio de um procedimento em 2018 era de R$ 151,33, enquanto em 2022 aumentou para R$ 758,93. Os custos médios de internação chegaram a R$ 1.082,22, e as despesas com cirurgia atingiram R$ 3.406,07.
Fernando Maia, coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, mencionou que além do impacto da pandemia de COVID-19 no sistema de saúde, a forma inadequada de gastos também contribui para o aumento dos custos. Ele ressaltou a necessidade urgente de reestruturar os investimentos em oncologia para reduzir a mortalidade, melhorar a sobrevida livre de doença e avaliar se as novas incorporações e o aumento de custos estão impactando positivamente a saúde das pessoas.
Além disso, a Fiocruz e o Grupo Oncoclínicas anunciaram a criação do Centro Integrado de Pesquisa em Oncologia Translacional (Cipot) por meio de uma parceria público-privada. Esse centro visa unir esforços e investimentos em pesquisa, inovação, capacitação de profissionais de saúde e empreendedorismo na área de oncologia. A iniciativa busca melhorar o rastreamento da doença, o diagnóstico precoce e as terapias inovadoras, visando a eficiência nos custos do tratamento oncológico, evitando gastos elevados com cirurgias e melhorando a expectativa e qualidade de vida dos pacientes.
Para atingir a meta estabelecida pela OMS de alcançar 70% de sobrevida para todos os pacientes até 2035, conforme destacado por Carlos Gil Ferreira, diretor médico do Grupo Oncoclínicas e presidente do Instituto Oncoclínicas, é essencial aumentar o investimento em pesquisas e conscientizar sobre as consequências do diagnóstico tardio do câncer, pois isso reduz as chances de cura e compromete o potencial dos tratamentos.